Notificações de erros de medicação na Atenção Primária à Saúde de uma capital brasileira: uma análise na ótica da segurança do paciente
Vigil Sanit Debate, Rio de Janeiro, 2025, v.13: e02383 | Publicado em: 01/12/2025
DOI:
https://doi.org/10.22239/2317-269X.02383Palavras-chave:
Erros de Medicação, Segurança do Paciente, Atenção Primária à Saúde, Gestão de RiscosResumo
Introdução: Erros de medicação são eventos evitáveis que podem resultar no uso inadequado de medicamentos e estão relacionados a diversas etapas, como prescrição, dispensação e administração, podendo causar consequências clínicas graves aos indivíduos e custos financeiros elevados aos sistemas de saúde. Dados sobre a frequência e o impacto desses erros são predominantemente oriundos de estudos hospitalares, sendo escassos na Atenção Primária à Saúde (APS). Objetivo: Analisar as notificações de erros de medicação originadas na APS do Sistema Único de Saúde (SUS) em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Método: Foi conduzida uma pesquisa exploratória e descritiva, utilizando abordagem quantitativa. Foram analisadas 1.174 notificações, realizadas entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2023, no Sistema de Notificação da Prefeitura Municipal. Resultados: Os erros mais frequentes foram: de dispensação (73,0%), seguidos por erros de prescrição (23,0%) e administração de medicamentos (4,0%), envolvendo principalmente anti-hipertensivos, antidiabéticos e anticonvulsivantes. O tipo de erro mais frequente foi a dispensação do medicamento incorreto ao usuário. A maioria dos casos ocorreu em mulheres (60,0%), com predominância na faixa etária acima de 60 anos (37,4%). Embora a maior parte dos erros não tenha causado danos aos pacientes (96,3%), houve registros de eventos adversos leves (2,6%) e graves (1,1%), incluindo um caso fatal. Dentre os erros com consequências leves, 25,0% envolveram medicamentos potencialmente perigosos. Já entre os casos graves, essa proporção atingiu 38,0%. Conclusões: O estudo demonstrou que os erros de medicação mais notificados na APS de Belo Horizonte se relacionam à etapa de dispensação, com maior impacto em mulheres e idosos. Embora a maioria dos erros não tenha resultado em danos, a ocorrência de eventos adversos – incluindo um óbito – e a elevada associação com medicamentos perigosos reforçam a necessidade de melhorias nos processos de dispensação, protocolos para medicamentos de alto risco e estratégias específicas para grupos vulneráveis, visando aumentar a segurança do paciente nas unidades de APS. Nesse contexto, a implantação dos Núcleos de Segurança do Paciente se destaca como uma estratégia essencial para organizar a assistência e promover as mudanças necessárias.
Downloads
Referências
1. World Health Organization – WHO. Medication errors: technical series on safer primary care. Geneva: World Health Organization; 2016[acesso 6 jan 2022]. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/252274
2. World Health Organization – WHO. Medication without harm: global patient safety challenge on medication safety. Geneva: World Health Organization; 2017[acesso 6 jan 2022]. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/255263/WHO-HIS-DS-2017.6eng.pd.
3. World Health Organization – WHO. Global patient safety action plan 2021–2030: towards eliminating avoidable harm in health care. Geneva: World Health Organization; 2021[acesso 31 ago 2022]. Disponível em: https://www. who.int/teams/integrated-healthservices/patient-safety/policy/global-patient-safety-action-plan
4. Goedecke T, Ord K, Newbould V, Brosch S, Arlett P. Medication errors: new EU good practice guide on risk minimisation and error prevention. Drug Saf. 2016;39:491-500. https://doi.org/10.1007/s40264-016-0410-4
5. Assiri GA, Shebl NA, Mahmoud MA, Aloudah N, Grant E, Aljadhey H, Sheikh A. What is the epidemiology of medication errors, error-related adverse events and risk factors for errors in adults managed in community care contexts? A systematic review of the international literature. BMJ Open. 2018;8(5):1-31.https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-019101
6. Marchon SG, Mendes Junior WV. Patient safety in primary health care: a systematic review. Cad Saúde Pública. 2014;30(9):1815-35.https://doi.org/10.1590/0102-311X00114113
7. Elliott RA, Camacho E, Jankovic D, Sculpher MJ, Faria R. Economic analysis of the prevalence and clinical and economic burden of medication error in England. BMJ Qual Saf. 2021;30(2):96-105.https://doi.org/10.1136/bmjqs-2019-010206
8. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2013[acesso 12 jan 2022]. Disponível em:https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/pub licacoes/item/seguranca-na-prescricao-uso-eadministracao- de-medicamentos
9. National Coordinating Council For Medication Error Reporting And Prevention – NCCMERP. Types of medication errors. Rockville:National Coordinating Council For Medication Error Reporting And Prevention; 2022[acesso 16 maio 2022]. Disponível em: https://www.nccmerp.org/types-medication-errors
10. Faria JCM, Nascimento MMG, Anacleto TA. Medicamentos potencialmente perigosos de uso ambulatorial e para instituições de longa permanência - listas atualizadas -2022. Belo Horizonte: Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos; 2022[acesso 10 jun 2023]. Disponível em: https://www.ismp-brasil.org/site/wp-content/uploads/2022/09/MEDICAMENTOS-POTENCIALMENTEPERIGOSOS-LISTAS-ATUALIZADAS-2022.pdf
11. Perini E, Faria JCM, Nascimento MMG, Rosa MB, Anacleto TA. Medicamentos potencialmente perigosos de uso hospitalar e ambulatorial: listas atualizadas 2015. Belo Horizonte: Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos; 2015[acesso 10 jul 2023]. Disponível em: https://www.ismp-brasil.org/site/wp-content/uploads/2015/12/V4N3.pdf
12. Rezende CP, Caon S, Anacleto TA. Segurança de rótulos e embalagens de medicamentos. Belo Horizonte: Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos; 2023[acesso 19 jun 2023]. Disponível em: https://www.ismp-brasil.org/site/wpcontent/uploads/2023/04/Boletim_ISMP_Brasil_Rotulos-e-embalagens.pdf
13. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Protocolo de segurança na prescrição, uso e Administração de Medicamentos. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2013[acesso 23 nov 2021]. Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/item/seguranca-na-prescricao-uso-e-administracao-de-medicamentos
14. Bibiano AMB, Moreira RS, Tenório MMGO, Silva VL.Fatores associados à utilização dos serviços de saúde por homens idosos: uma revisão sistemática da literatura. Ciênc Saúde Colet. 2019;24(6):2263-78.https://doi.org/10.1590/1413-81232018246.19552017
15. Cândido RCF, Detoni KB, Rezende CP, Silva HM. Prevenção de erros de medicação na transição do cuidado. Belo Horizonte: Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos; 2019[acesso 10 jun 2023]. Disponível em: https://www.ismpbrasil.org/site/wp-content/uploads/2019/04/boletim_ismp_30a_edicao.pdf
16. Santana BS, Rodrigues BS, Stival MM, Rehem TCMSB, Lima LR, Volpe CRG. Interrupções no trabalho da enfermagem como fator de risco para erros de medicação. Avan Enferm. 2019;37(1):56-64.https://doi.org/10.15446/av.enferm.v37n1.71178
17. Mieiro DB, Oliveira EBC, Fonseca REP, Mininel VA, Zem-Mascarenhas SH, Machado RC. Strategies to minimize medication errors in emergency units: an integrative review. Rev Bras Enferm. 2019;72:307-14.https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0658
18. Manias, E et al. Interventions to reduce medication errors in adult medical and surgical settings: a systematic review. Adv Drug Saf. 2020;11:1-29.https://doi.org/10.1177/2042098620968309
19. Batson S, Herranz A, Rohrbach N, Canobbio M, Mitchell SA, Bonnabry P. Automation of in-hospital pharmacy dispensing: a systematic review. Eur J Hosp Pharm. 2021;28(2):58-64.https://doi.org/10.1136/ejhpharm-2019-002081
20. Damiani G, Altamura G, Zedda M, Nurchis MC, Aulino G, Heidar Alizadeh A et al. Potentiality of algorithms and artificial intelligence adoption to improve medication management in primary care: a systematic review. BMJ Open. 2023;13(3):1-9.https://doi.org/10.1136/bmjopen-2022-065301
Downloads
Publicado
Licença
Copyright (c) 2025 Vigilância Sanitária em Debate

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS O(s) autor(es) doravante designado(s) CEDENTE, por meio desta, cede e transfere, de forma gratuita, a propriedade dos direitos autorais relativos à OBRA à REVISTA Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia (Health Surveillance under Debate: Society, Science & Technology) – Visa em Debate e, representada por FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, estabelecida na Av. Brasil, nº 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, CEP 21045-900, doravante designada CESSIONÁRIA, nas condições descritas a seguir: 1. O CEDENTE declara que é (são) autor(es) e titular(es) da propriedade dos direitos autorais da OBRA submetida. 2. O CEDENTE declara que a OBRA não infringe direitos autorais e/ou outros direitos de propriedade de terceiros, que a divulgação de imagens (caso as mesmas existam) foi autorizada e que assume integral responsabilidade moral e/ou patrimonial, pelo seu conteúdo, perante terceiros. 3. O CEDENTE cede e transfere todos os direitos autorais relativos à OBRA à CESSIONÁRIA, especialmente os direitos de edição, de publicação, de tradução para outro idioma e de reprodução por qualquer processo ou técnica. A CESSIONÁRIA passa a ser proprietária exclusiva dos direitos referentes à OBRA, sendo vedada qualquer reprodução, total ou parcial, em qualquer outro meio de divulgação, impresso ou eletrônico, sem que haja prévia autorização escrita por parte da CESSIONÁRIA. 4. A cessão é gratuita e, portanto, não haverá qualquer tipo de remuneração pela utilização da OBRA pela CESSIONÁRIA.



